O atacante Gabriel Barbosa, conhecido como Gabigol, jogador do Flamengo e um dos principais nomes do futebol brasileiro nos últimos anos, está no centro de uma das maiores polêmicas jurídicas do esporte nacional. O jogador foi suspenso por dois anos pelo Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD) por suposta tentativa de fraude no processo de coleta de exame antidoping, realizado em abril de 2023, no Centro de Treinamento do Flamengo, no Rio de Janeiro.

De acordo com a denúncia apresentada pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), o atleta teria dificultado deliberadamente a realização do exame, ignorado orientações dos oficiais de controle e agido com desrespeito aos protocolos internacionais, gerando suspeitas de tentativa de manipulação do processo. A acusação não envolve substância proibida encontrada em seu corpo, mas sim conduta incompatível com a boa-fé exigida durante os procedimentos de testagem, especialmente prevista no artigo 122 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva Antidopagem (CBJD-AD).

Segundo o laudo do TJD-AD, Gabigol teria se recusado a fornecer a amostra na ordem solicitada, deixado a sala de controle sem autorização e se negado a seguir instruções claras dos agentes da ABCD. A punição imposta, com início em abril de 2024, prevê o afastamento do atleta de todas as competições oficiais até abril de 2026, o que representaria um baque enorme para sua carreira e para o próprio Flamengo, que contava com o jogador em sua principal campanha do ano.

A defesa de Gabigol, conduzida por advogados especializados em direito desportivo nacional e internacional, considera a pena desproporcional e injusta, alegando que não houve má-fé e que os atos atribuídos ao jogador foram, no máximo, frutos de desorganização e ansiedade. Com isso, a equipe jurídica decidiu recorrer à instância máxima do esporte: a Corte Arbitral do Esporte (CAS), sediada em Lausanne, na Suíça. O CAS analisará o recurso nos próximos meses, podendo manter, reduzir ou até anular a decisão do TJD-AD.

A relevância do caso ultrapassa o interesse esportivo. Juristas apontam que o julgamento da Corte poderá definir os parâmetros internacionais para o que se entende por “fraude na coleta”, o que pode influenciar futuras decisões não apenas no Brasil, mas em outras jurisdições ligadas ao Comitê Olímpico Internacional e à FIFA. O caso reacende debates sobre a proporcionalidade das sanções, a autonomia das entidades antidopagem e os limites da conduta exigida dos atletas em procedimentos técnicos e burocráticos.

A expectativa é que o CAS analise o mérito da questão até o fim de 2025, podendo inclusive conceder uma liminar para suspensão provisória da pena até o julgamento definitivo, o que permitiria o retorno de Gabigol aos gramados. O Flamengo, por sua vez, tem adotado postura de apoio ao jogador, mas aguarda os desdobramentos jurídicos para tomar decisões estratégicas.